A moça gorda, complexada, consegue emagrecer depois de anos de esforços, tentativas, endocrinologistas, barbitúricos e promessas. Finalmente se transforma em uma bela magra (não que não fosse antes uma bela gordinha, mas simplesmente, digamos, se julgava, ou julgavam-na, fora do padrão estético social atual, como dizem). Consegue emagrecer. Sem lhe tirar o grande mérito da "conquista" pessoal e da força de vontade - e do provável ganho de autoestima e mesmo de saúde física -, se transforma, quase invariavelmente, em uma curiosa criatura digna de cativante observação e duradoura enxaqueca.
A observação social e psicológica digna de estudo é a de que a felicidade pelo novo estado físico e psíquico é tanta que a feliz e esnobe criatura não consegue ficar contida no invólucro que se denomina indivíduo. Não sabemos bem se é por que este se viu diminuído pela falta recente de massa corporal ou se por chatice e falta de senso de ridículo mesmo.
A consequência disso é que a pessoa recém diminuída anda por todos os lados com a cabeça erguida. Os olhos entreolhando seguidamente e ao mesmo tempo o seu novo corpo e as pessoas ao redor, a pensar que todo mundo está reparando o seu "novo corpo", a sua "nova silhueta", a sua "super belezura magérrima", aquela novidade tremenda que é um "simples corpo magro caminhando pela multidão", como existem outros sete ou nove bilhões por aí, que não fazem mais do que sua simples obrigação física e corporal.
A vitória do emagrecimento, para os gordos, é algo tão significante e astronômico que se julgam a "bala que matou o Kennedy", a "bola da vez", o "cirurgião plástico que arrumou a Dilma". Não se dão conta que o que são agora é nada mais que o normal. Que a gordura extra era só uma gozação da natureza. Param no caixa do banco e dizem: "Olha, quero depositar na minha conta aqui estes cinquenta reais". E ficam esperando o caixa babar e dizer: "Nossa, como você conseguiu isso?! Ficar magra! E seus olhos, suas orelhas, sua cabeça, tudo está no mesmo lugar! Que coisa ótima! Que maravilhosa que você está!" Mas o pobre só pensa em quão minguado é seu salário! Em não errar nas contas, e nem lembra se a figura lá do outro lado era gorda, magra, ou tico-tico no fubá.
Passam na roleta do ônibus em que antes engastalhavam e ficam lá, heróicas, esperando as palmas do pessoal do circular. E os zumbis lá, balançando as cabeças por causa dos buracos, nem aí pra nada. E a vida correndo. A vida não quer só um magro que era gordo. Tem que malhar, passar no vestibular, arrumar um namorado, uma ponta na Ana Maria Braga, uma promoção! Baah, desse jeito tem gente que desanima e volta a ser gorda...
E quando chega a ex-gorda magra na casa dos amigos? "Você me conheceu depois de magra? Eu tô no manequim 36 agora! Menina! Que ballet, hein?! Me conta!" E duas horas para contar das consultas, três das ginásticas, cinco das dietas e um tanto de gorda que não conseguiu emagrecer dando palpites, outras meio de lado, outras gordas que já foram magras e voltaram a ser gordas dizendo que a magra atual ex-gorda deve tomar cuidado, que volta tudo de repente etc.
E isso não acontece só no mundo das ex-gordas. Os ex-gordos são iguais. E os ex-carecas? Chegam com um implante que parece uma piaçava no bar e acham que estão abafando. A maioria ao redor não tinha ao menos se dado conta de que antes eles eram carecas. Mas agora notaram que levaram uns tiros de cartucheira na cabeça. Vai entender...
E as múmias modernas então? Ficam oito meses do ano enfaixadas em casa depois das cirurgias plásticas, mas dois meses roxas, e saem uns dois meses desfilando. Ninguém pode com as múmias modernas!
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
oi,
Vim conhecer seu cantinho,
Realmente "agente se acha" mais a vida continua..... o mundo não para porque nóis mudamos. E nem todos ficam "chocados" de como emagrecemos ( mais que torcemos pra encontrar uma amizade que não vemos desde o começo da dieta, ha isso torcemos...) já que alem de ficarmos de bola cheia da uma força pra continuar.
Bjs.........
tah certo que a gente tem que ficar feliz, mas ser esnobe... aí eh demais... adimito que vou me achar muito quando chegar na minha meta!!! hehehe
Postar um comentário